Com quem devo tratar a minha dor?

A Síndrome Dolorosa Miofascial não é diagnosticada facilmente, o tratamento consiste na identificação do foco da dor.

Por: Dr. Nêuton Magalhães

 

É muito comum alguns pacientes chegarem ao consultório informando que têm duas, três ou mais hérnias de disco e trazendo consigo uma “pilha” de ressonâncias magnéticas de toda a coluna vertebral e que, muitas vezes, não justificam suas dores!

São pacientes com dores na coluna que não são explicadas por completo pelas alterações encontradas nos exames de imagem.

Segundo pesquisas feitas em grandes centros dos Estados Unidos, a maioria das dores lombares persistentes não têm nenhuma causa reconhecível em estudos de imagem e é geralmente atribuída à tensão muscular ou lesões ligamentares (65% – 70%).

A maioria dos estados dolorosos incluem alguns tipos de dores provenientes de estruturas que compõem a coluna vertebral e da musculatura paravertebral e não é fácil na prática clínica identificar as estruturas exatas geradoras de dor. A causa das dores crônicas recorrentes na coluna podem não estar exatamente nestas estruturas que são analisadas nos exames de imagens. Podem estar nos músculos e seus envoltórios (fascias), cujas alterações não aparecem nesses exames. Chamamos isto de Síndrome Dolorosa Miofascial. Esse tipo de dor ocorre em uma grande parcela da população, principalmente mulheres; atinge pessoas da faixa etária dos 20 aos 49 anos, inativas e sedentárias. É raro em crianças e adolescentes.

Essa síndrome é caracterizada pela presença de Pontos Gatilhos (PG), que são foco de irritabilidade em um músculo facilmente detectável pela palpação, onde se detecta um nódulo causado por uma banda muscular tensa. Pode acometer qualquer músculo do nosso corpo e pode persistir por meses ou anos, até o paciente receber o tratamento adequado.

Esta síndrome dolorosa pode causar: dor de cabeça, dor no pescoço, dor na mandíbula, dor lombar, dor pélvica e dores nos braços e nas pernas.

Um músculo acometido com PG miofascial pode, por exemplo, “simular” uma dor decorrente de hérnia de disco, quando o músculo glúteo mínimo ou o músculo piriforme estão com PG.

Como diagnosticar ?

O diagnóstico baseia-se na identificação do PG ou doloroso numa banda de tensão muscular e na reprodução da dor durante o exame clínico. Parece um diagnóstico fácil, mas não é. O médico precisa ter um vasto conhecimento sobre outras doenças que podem se apresentar com dores semelhantes, precisa ter bons conhecimentos sobre exames neurológicos e exames de imagem para poder excluir outras fontes de dor e direcionar o tratamento para a causa desta dor e, desse modo, poder tratar o paciente por completo.

Como tratar ?

Existem diferentes abordagens que podem ser feitas para tratar os pacientes com Síndrome Dolorosa Miofascial, sempre dentro de uma visão holística e multidisciplinar. O objetivo principal é promover o alívio imediato da dor de forma a permitir que o paciente inicie um tratamento fisioterápico. Este tratamento é o que lhe trará resultados mais duradouros.

Quando não respondem ao tratamento medicamentoso e fisioterápico, resta fazer a “desativação” dos PGs através do bloqueio de nervos periféricos (ou de Pontos-Gatilhos) visando interromper o círculo vicioso dor-espasmo-dor. Existem diversas formas para atingir este objetivo que vão desde agulhamento seco (utilizando agulhas de acupuntura), passando por bloqueios anestésicos e, em alguns, casos podem necessitar de procedimentos neurocirúrgicos.

Com quem tratar ?

Dor é uma área de atuação de oito especialidades médicas: Neurocirurgia, Neurologia, Anestesiologia, Fisiatria, Acupuntura, Ortopedia, Clínica Médica e Reumatologia. Geralmente se faz um curso de pós-graduação (após a residência médica) com duração mínima de um ano e só depois o profissional pode fazer a prova de Título de Especialista em Dor da Associação Médica Brasileira.

 

Dr. Nêuton Magalhães (CRM-PB 5914)
Neurocirurgião Funcional;
Treinamento em tratamento neurocirúrgico da dor e doença de Parkinson no Grupo de Dor USP;
Doutorado no Departamento de Neurologia da USP, na área de dor lombar.