Disfunção Miccional: da incontinência urinária à enurese

Problemas relacionados ao armazenamento de urina e ao esvaziamento da bexiga 

Por: Dra. Roxana de Almeida

Quem não conhece uma criança que faz “xixi na cama”? Quem nunca viu uma criança “esquecer de fazer xixi” porque estava brincando? Qual professor de educação infantil nunca teve um aluno que pedia para fazer xixi a cada meia hora? Tudo isso pode ser manifestações de disfunção miccional.

As disfunções miccionais são problemas relacionados ao armazenamento de urina e ao esvaziamento da bexiga, que afetam crianças neurologicamente normais. São muito mais comuns do que se imagina. Acredita-se que 15% das crianças e adolescentes apresentem manifestações desse problema.

Causas

Habitualmente, as crianças começam a apresentar sintomas após a retirada das fraldas. E, esse processo, (retirada das fraldas) pode ser um dos fatores desencadeantes do problema. Será que alguma mãe já teve curiosidade de saber como é a maneira certa de ensinar uma criança a usar o vaso sanitário? E nas escolas, será que é correto fazer a fila para ir ao banheiro? Será que todas as crianças têm desejo de urinar na mesma hora?

Existem outros fatores desencadeantes do problema: o uso rotineiro de alguns alimentos industrializados, entre eles: sucos de caixinha, iogurtes, leites fermentados, corantes e outros, por conterem certos produtos químicos em suas formulações, que podem alterar o funcionamento da bexiga. Também podem desencadear problemas psicológicos.

Sintomas

Segundo a International Children’s Continence Society (ICCS), as disfunções miccionais podem ser divididas em 2 grupos: diurnos, cuja manifestação mais comum é a incontinência urinária (perdas involuntárias de urina) e noturnos, manifestando-se por enurese (fazer xixi na cama sem perceber). Os sintomas podem ser isolados ou não. Dentre as disfunções miccionais, a enurese monossintomática é a mais frequente.

Durante o dia, o controle urinário é através do sistema nervoso e deve-se ensinar, a partir dos 3 anos, a usar o sanitário. Durante o sono, o controle é hormonal, ou seja, independente da vontade da criança.

As crianças começam a ter controle noturno a partir dos 3 anos e por volta dos 6 anos, a maioria delas já parou de fazer “xixi na cama”. Entretanto, 15% das crianças são enuréticas e permanecem urinando na cama. Esse problema é mais comum em meninos e tem característica familiar.

O hormônio responsável pelo controle noturno da micção é o hormônio antidiurético (ADH). Ele é liberado durante o sono e atua diminuindo a produção de urina pelos rins e é por isso que não fazemos xixi. Quando ocorre a diminuição na liberação do ADH, aumenta a produção de urina. Com a bexiga cheia, sentimos vontade de urinar e, finalmente, acordamos.

As crianças que têm enurese não fazem “xixi na cama” porque querem. Caracteristicamente, são crianças “boas de cama”: dormem muito e têm o sono pesado.

A disfunções miccionais não podem ser negligenciadas, pois podem levar a infecções urinárias de repetição. Além disso, podem causar dificuldade de relacionamento social e sofrimento psicológico.

Tratamento

Fisioterapias específicas para o trato urinário, medicações, psicoterapia e mudanças de hábitos de vida fazem parte do arsenal terapêutico para as disfunções miccionais. Um nefrologista pediátrico poderá ajudar no diagnóstico e tratamento do problema.

Dra. Roxana de Almeida Roque Fontes Silva / CRM-PB 4819
-Especialista em Pediatria (RQE 3716);
– Título de Especialista em Nefrologia Pediátrica (RQE 3727);
– Mestranda em Nefrologia Pediátrica.