A labirintopatia que não se beneficia de medicações

Quando o tratamento medicamentoso para labirintite não surte efeito, pode ser Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB).

Por: Dr. Marcelo do Amaral Corrêa

A manutenção do equilíbrio corporal depende da interação e integridade de alguns órgãos do nosso corpo:

1- O labirinto (ou ouvido interno).
2- O cérebro (ou sistema nervoso central).
3- A visão, que complementa as informações neurológicas e do ouvido interno.

Várias são as causas das labirintopatias, popularmente conhecidas como “labirintites”:

1- Deficiências circulatórias causadas, por exemplo, por diabetes, hipertensão arterial, colesterol elevado, oferta redu-
zida de oxigênio por anemia e insuficiência cardíaca são alguns fatores;
2- Algumas infecções virais e mais raramente bacterianas;
3- Distúrbios neuro psiquiátricos como ansiedade, depressão e síndrome do pânico;
4- Alterações do metabolismo (controle orgânico) do colesterol, triglicérides, glicemia e hormônios da tireóide;
5- Problemas musculares/esqueléticos da coluna, especialmente na região cervical.

Por que a Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB) é tão diferente?

Em todas as outras situações, há alguma melhora, e geralmente importante, com tratamento medicamentoso. No caso da VPPB, ocorre o desprendimento de cristais (pequenas partículas naturais do ouvido) da base do labirinto onde se encontram os canais do equilíbrio, fazendo com que estes fiquem soltos dentro de um ou mais canais.

Sempre que há algum movimento de maior amplitude da cabeça ou de todo o corpo, há deslocamento dos cristais pelo canal. Somente enquanto os cristais se deslocam, por inércia, há sensação de vertigem, normalmente intensa.

Quais são os sintomas da VPPB?

O mais comum é que ocorra vertigem intensa de curta duração (sensação de tontura rotatória) principalmente ao deitar, virar-se na cama ou ao realizar movimentos de maior amplitude da cabeça, como olhar bem para cima ou para baixo. Podem ser acompanhados de náuseas ou até vômitos e palidez da pele. Mas a intensidade pode variar, podendo haver somente tontura (instabilidade) e não vertigem.

Por quais motivos a VPPB ocorre?

Pode estar associada a algumas situações como: traumatismos cranianos, algumas cirurgias do ouvido, imobilidade (em pacientes acamados por tempo prolongado), viroses e degeneração (deterioração do ouvido interno em pessoas muito idosas). Alguns trabalhos mais recentes têm sugerido relação com o uso de anti-inflamatórios e insuficiência/deficiência de vitamina D.

Como se faz o diagnóstico de VPPB?

Seu diagnóstico é feito por manobras específicas de posição do corpo e da cabeça, que, na maioria das vezes, quando o diagnóstico é positivo, promovem um movimento ocular espontâneo transitório (durante os momentos de sintomas) conhecido tecnicamente como nistagmo, com uma direção característica do canal afetado.

Qual o tratamento para VPPB?

Como a caraterística desta doença é de uma alteração física/ estrutural do labirinto, os medicamentos não promovem melhora para o quadro. Seu tratamento consiste na reposição dos cristais para o seu local de origem, fazendo com que os mesmos ali se fixem novamente e o problema se solucione. O termo técnico do tratamento é conhecido por reposição de canal semicircular.
A duração média do tratamento para a maioria dos casos costuma ser de 2 a 4 sessões (com intervalos de 3 a 5 dias entre elas), podendo ser maior em casos mais intensos ou quando há mais de 1 canal ou lado afetados.

De qualquer forma, a VPPB pode estar associada a outras causas de labirintopatia. Apesar do fácil diagnóstico e alta prevalência (é uma das causas mais frequentes), pode não ser considerada de imediato, principalmente por não-especialistas. Caso o tratamento medicamentoso para labirintopatia não esteja surtindo o efeito desejado, é sempre bom lembrar desta possibilidade.

 

Dr. Marcelo do Amaral Corrêa (CRM-PB 7.393)
– Professor colaborador da Faculdade de Medicina de Jundiaí de 2001 a 2010.
– Médico Preceptor dos residentes da Clínica Otorhinus de 2001 a 2010.
– Professor da disciplina de otorrinolaringologia da FAMENE desde 2016.
– Membro da equipe de otorrino do Hospital Nossa Senhora das Neves desde 2016.